Sunday, May 29, 2011

O Jardim Pedagógico – PETI – Fortaleza – CE




Eu era arte-educadora do PETI juntamente com uma equipe de mais sete arte-educadores, trabalhávamos com acompanhamento das atividades e capacitação em arte-educação com os educadores do PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil. Durante os nossos encontros (com os educadores das 15 instituições que executam o PETI) eu comecei a jogar a idéia: “quem tiver vontade de trabalhar com jardins e hortas com as crianças, podemos começar a desenvolver um trabalho, estou disponível para acompanhar, blá, blá, blá... estou estudando a permacultura e blá, blá, blá....”. Até que um dia a Kelly, educadora do PETI do bairro José Walter me chamou para começarmos a trabalhar em um espaço que havia em frente a sala deles.

É fundamental que o educador se apaixone pela proposta, é preciso o brilho no olhar para investir forças na construção de um jardim no espaço educacional. Essa força tem que ser bem empregada, por isso devemos estar atentos para o real interesse dos educadores em desenvolver um trabalho assim, pois não faz sentido criar um jardim que não será cuidado e utilizado como espaço de aprendizagem. Mas, felizmente, sabemos que existem vários educadores atraídos por esse tipo de proposta.

A minha participação nesse trabalho foi, sobretudo, prática, pois eu não podia me dedicar com exclusividade já que no PETI trazia várias outras demandas. Então era chegar lá, encontrar a turma e mão na massa! Ou melhor, mão na terra! Durante os nossos mutirões nós íamos construindo juntos o conhecimento; as crianças traziam saberes de seus pais e de seus avós, várias surpresas aconteciam durante o processo e nós tínhamos que tomar decisões juntos. Compartilhamos dúvidas, algumas frustrações e, sem dúvidas, muita alegria e satisfação.

No jardim todo dia tem uma novidade: nasce uma flor, aparece uma lagarta, uma borboleta, etc. É também um espaço para vivenciarmos o CUIDADO, vemos o quanto de atenção precisamos dar para aquilo que cultivamos, vemos também como as plantas estabelecem conexões entre si e como criam o seu próprio sistema.

Certamente que, avaliando o processo, vejo que muitas outras ações precisavam ser feitas para que a metodologia fosse mais integral, ou seja, fizemos muitas práticas, mas foram poucos os momentos que tive com eles para um círculo de diálogos, para apreender os princípios da permacultura e para contextualizar esses saberes no mundo em que vivemos.

Não tivemos também muitos recursos para realizar esse trabalho, tudo que tínhamos era o que eu e as educadoras trazíamos de casa, adubo, mudas de plantas, sementes, tintas... Também houve momentos que a gente pegou o carrinho de mão e saímos pelas ruas do José Walter coletando alguns resíduos que poderíamos aproveitar: madeira, pedras, folhas, terra, pneus, etc.

Apesar do caráter quase que totalmente vivencial dessas atividades acredito que cada vez que nós educadores realizarmos uma experiência assim estaremos resignificando as nossas relações com o ensino-aprendizagem, com a natureza, com os estudantes e com o espaço de aprendizagem. Desse trabalho pude tirar algumas fases metodológicas e características que podem inspirar outras experiências e, sobretudo, iluminar nossas idéias para que possamos visualizar métodos para a inserção da permacultura nos espaços educacionais.

Segue abaixo alguns tópicos relativos à função da orientação pedagógica em permacultura:

- Sensibilização (através de músicas, vídeos e círculos de diálogo);

- Introdução à Permacultura (conceito e contexto – utilizar imagens, desenhos, tarjetas, grupos e metodologias de aprendizagem integrada);

- Observação e Planejamento (observar o espaço a ser modificado, a presença e as influências dos elementos naturais no local, conhecer o método de planejamento da permacultura e planejar através de desenhos artísticos dos estudantes: como cada um deles gostaria de modificar aquele local?);

- Elaboração do Diário de Campo (ao final de cada atividade que se relacione com o jardim ou com o estudo da permacultura, anotar e desenhar os relatos no diário de campo);

- Aproveitamento do espaço: partir do que já existe, valorizar o espaço e potencializar as suas funções;

- Acompanhamento e estudo com os educadores: a cada novo encontro entregar textos e materiais sobre a permacultura para os educadores e estabelecer um diálogo sobre o assunto;

- Planejamento pedagógico: juntamente com os educadores definir temáticas e criar atividades a serem trabalhadas para contextualizar as práticas do jardim pedagógico com os conteúdos da escola, do projeto e da atualidade global;

- Registro audiovisual interativo: os estudantes filmam todo o processo, há uma câmera disponível para que todos possam usar;

- Trabalho coletivo: ao iniciar o trabalho divide-se o grupo em equipes rotativas, assim todo mundo pode passar por todas as fases do processo, por exemplo: equipe que vai plantar as mudas, equipe que vai semear, equipe que vai preparar os jarros, equipe para coletar material, equipe da pintura, equipe da filmagem, etc. Assim todo mundo participa de forma interativa, durante todo o processo o educador tem inúmeras oportunidades de enfatizar a importância do trabalho em grupo e da harmonia na coletividade;

- O círculo sagrado: como em um ritual é fundamental iniciar e terminar os trabalhos no jardim em círculo e cantando músicas que reverenciam a natureza.

Veja que na maior parte do trabalho estão envolvidos educadores e educandos de forma igualitária; todos que participam desse processo estão na condição de aprendiz, pois a natureza é quem ensina para o grupo. A permacultura nos orienta a observar o mundo natural e potencializar as nossas ações a partir da integração com os ciclos da natureza, assim vamos “imitando” a floresta e aprendendo como interagir respeitando e cooperando com os ciclos naturais.

ANTES E DEPOIS:


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