Thursday, July 03, 2014

Aos pais e mães



 (texto escrito em 2005)

Se eu pudesse, diria o seguinte a todas as mães: sei que não tenho nada a ver com a criação do seu filho, mas se um dia, ao sair de uma apresentação de balet e ele lhe disser “Mãe (ou pai), quero ser bailarino”, acredite, o seu filho fez a verdadeira escolha. Usei este exemplo, pois presenciei esta cena ao sair de um teatro e a voz daquele garoto ecoa na minha cabeça constantemente.

É incrível o papel da arte na vida das pessoas, o quanto as músicas, a literatura, a dança, o cinema, a fotografia nos envolve sentimentalmente e nos causam reflexos nos provocando um pensamento maior quanto a nossa vida nos proporcionando um encontro “cara a cara” com o nosso próprio eu.

O encontro com o “próprio eu”, muitas vezes, nos faz chorar e baixar a cabeça diante se si mesmo, pois se trata da prestação de contas mais dolorosa, a prestação de conta consigo mesmo. Não dá para mentir, para maquiar a realidade. É quando a sua própria voz lhe diz a verdade utilizando da sua própria honestidade e do seu senso crítico. A arte pode proporcionar isso.

Nunca se deve abrir mão de ser a pessoa que é. Não se deve desviar as virtudes e até mesmo os defeitos. Estes últimos devem ser moldados de acordo com a realidade, de maneira sóbria e não apenas escondido com uma máscara. É muito fácil agradar aos outros e ser aceito, mostrar-se conveniente à família e à sociedade, acontece que esta conveniência deve ser conivente à própria personalidade, aos gostos e anseios. Não se pode pisar ou ignorar a si mesmo só para parecer adequado.

E eu diria mais à todos aqueles que são pais: se ontem seu filho quis ser bailarino e hoje ele resolveu que quer ser bombeiro, acredite novamente que esta foi a decisão correta, isso é sinal de que ele está crescendo e se conhecendo ainda mais, isso significa que sua personalidade está fluindo e consequentemente evoluindo. Nunca reprima um sonho de alguém.

Se sua filha prefere tênis e calça jeans a um vestido rodado com fitas de cetim, sinta-se orgulhoso, isso é sinal de que ela é inteligente e não abre mão do bem estar por motivos fúteis ou meras aparências. Os pais devem perder a mania de mostrar os filhos como se fossem uma escultura perfeita, pois a perfeição numa relação é a felicidade, a simplicidade e a satisfação. Isso é imprescindível.

Encontro-me, hoje, em um momento da vida em que me vejo sem orientação, como se fosse uma sonâmbula que saiu da cama e caminhou durante horas na rua e ao acordar não sabe onde está. Parece que vivo a realização dos meus sonhos, porém estes sonhos são antigos e não me servem mais. Hoje tenho outros sonhos.
Será que o ideal é sonhar algo impossível para que sempre tenhamos uma direção a seguir?

Fiz muito para agradar alguém que um dia fiz sofrer. Hoje continuou errando, continuou tão ruim quanto no passado, mas agora é pior, pois esqueci de mim. Não consigo mais lembrar quem eu sou, do que gosto e o que quero ser. Lembro-me vagamente de certas coisas no passado. Mas tenho a sensação de que esqueci do principal, como se fosse falar algo de importante e esquecesse em seguida. Esqueci de ser feliz acima de tudo, esqueci quem eu sou realmente.

Não busco dinheiro, busco felicidade. Não faço tudo por dinheiro e nem por status. Não tenho medo de morrer, mas morro de medo de não viver.

Dizem que os meus desejos são utópicos, isso me causa medo, mas ao mesmo tempo me motiva. Adoro adrenalina, magia e utopia.



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